sexta-feira, 3 de julho de 2015

Computadores, tablets e celulares: eles têm vez na sala de aula?


Em capacitação, educadores devem pensar em novas práticas pedagógicas possíveis com a tecnologia. “Muito da tecnologia dentro da escola é, ainda hoje, marketing puro: para a instituição dizer que é moderna sem, na verdade, fazer um trabalho pedagógico cuidadoso” – é o que afirma a pedagoga Adriana Gandin, uma das responsáveis pelo projeto iPad em Sala de Aula. 
O programa da EADes, começou em 2010 e foi pioneiro no Brasil, trazendo o aparelho (na época, um lançamento) para dentro das escolas como ferramenta de aprendizado. Hoje, Adriana é consultora de tecnologia educacional da editora FTD e viaja o país auxiliando escolas e capacitando professores para fazer melhor uso dos recursos oferecidos online. 

Com iPad para cada aluno, professor deve acolher novas informações e gerar discussões em sala (foto: iPad na Sala de Aula / reprodução)
Ela explica que, independente da plataforma, os educadores não devem abrir mão do planejamento – assim como qualquer atividade, jogos digitais também exigem acompanhamento, tanto prévio quanto posterior ao exercício. “Usar um aplicativo só pelo aplicativo é muito pouco; ele deve sempre trazer um olhar pedagógico”. Ou seja, a tecnologia não deve ser desculpa para perder tempo de aula ou mesmo inserida em qualquer lição aleatoriamente: segundo Adriana, o correto é “o professor usar a tecnologia quando ela realmente fizer a diferença, agregando valor de conhecimento e velocidade ao projeto”. Algumas atividades, é claro, não precisam – nem deveriam – ser substituídas: como reconhecimento de texturas ou brincadeiras ao ar livre, que desenvolvam a motricidade ampla, na Educação Infantil. Já jogos de alfabetização e matemática podem ser muito produtivos se realizados no mundo virtual.

Para fazer esse discernimento, é preciso capacitar educadores, não apenas expondo os aplicativos existentes, mas desenvolvendo a habilidade de curadoria. A equipe da escola precisa saber como buscar esses aplicativos e como eleger o que serve a cada objetivo. As possibilidades são inúmeras: desde domínios de compartilhamento coletivo (como o Dropbox ou o Google Drive, por exemplo, onde professores de várias turmas podem reunir seus planos de aula e atividades para acesso de todos) até ferramentas que lhes dão espaço para criar um material inédito de acordo com o conteúdo estudado.
Casos comuns de estranhamento acontecem entre professores mais conservadores, acostumados a aulas expositivas. São professores que não aceitam, por exemplo, que os alunos tirem fotos da matéria no quadro ou ouçam música enquanto fazem as tarefas de casa. Para Adriana, essas situações pedem uma pausa para refletir sobre as diferenças entre gerações e as lógicas segundo as quais cada uma trabalha. Ela ri enquanto argumenta a favor da tecnologia: “Há professores que dizem que não gostam que os alunos tirem fotos do seu quadro, acreditando que eles vão perder o material ou deletá-lo por acidente – quando, na verdade, quem tem problemas para organizar as imagens no celular é o próprio professor. Os alunos sabem como acessar esse conteúdo! Eles vão usar outros aplicativos que estão disponíveis online e que eles conhecem, mas o educador, por vezes, não. Eles seguem uma lógica diferente”.
A pedagoga conta que professores de Educação Infantil geralmente apresentam mais facilidade ao absorver a tecnologia em suas aulas. Isso se justifica pelo perfil dos educadores, que, além de terem experiência em educação, conhecem profundamente seus alunos e as etapas de desenvolvimento pelas quais eles estão passando. Além disso, a Educação Infantil provê um ambiente mais livre, estimulando a criatividade de crianças e professores.
Entretanto, mesmo para o Ensino Fundamental e Médio, há benefícios – e muitos – em adotar a tecnologia. “Quando os professores percebem que têm acesso a aplicativos que ajudam os jovens a treinar para o Enem ou os lembram de estudar em determinado horário, ele começa a ver a tecnologia com outros olhos”, afirma Adriana.
 O professor deve usar a tecnologia quando ela realmente fizer a diferença. Não adianta levar o 1+1 do quadro negro para a lousa digital se a prática de ensino não mudar” (Adriana Gandin – consultora de tecnologia educacional).
Para acompanhar o aprendizado na rede, Adriana enfatiza que o planejamento e o registro são tão essenciais quanto nas atividades offline. O aprendizado resultante dos aplicativos pode ser registrado de diversas formas: por escrito, com prints das telas, com jogos e projetos em sala que envolvam o que foi trabalhado no mundo virtual, fotos e vídeos da turma durante o exercício.
Reunido, esse material pode formar, inclusive, um novo modelo de portfólio – como, por exemplo, um livro digital oferecido pela escola aos pais. Uma das propostas possíveis através da tecnologia é gravar as crianças lendo durante o processo de alfabetização. “Como os pais estão com a criança todos os dias, eles não notam tanta diferença – mas, ao gravá-las lendo, a evolução fica clara! Assim, cria-se um portfólio mais vivo, que os pais vão querer compartilhar e divulgar para os amigos, porque é muito rico”.
Os registros servem, ainda, como respaldo para a escola. É importante que os pais possam ver, em relatórios muito claros, o aprendizado que está sendo atingido com essas ferramentas e a intencionalidade de cada aplicativo proposto. Adriana diz que, a partir daí, as famílias também passam a ser educadas quanto aos usos do tablet e do computador: “a escola até mesmo pode indicar aplicativos para elas terem em casa, e os pais vão incorporando isso. Assim, as crianças aprendem desde cedo que os aparelhos eletrônicos servem para brincar, sim, mas também para estudar e aprender“.


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